A história da Cristina Cruz

Desde que me conheço que quero ser mãe. Este foi um sonho que me acompanhou desde os tempos em que também queria ser princesa ou bailarina. Sempre tive o maior respeito e admiração por grávidas e bebés, mas à minha volta infelizmente nunca foi uma realidade muito presente e por isso os meus conhecimentos na área eram bastante limitados aos livros e informações que fui recolhendo esporadicamente.

Sempre olhei para a amamentação como uma condição óbvia de ter um filho, apesar de saber que muitos bebés nunca tinham sido amamentados por “impossibilidade” das mães (eu própria ou o meu irmão o fomos). Acreditava nas histórias de mães com pouco leite, ou com leite fraco, ou mesmo que haviam mães que não tinham tido leite.  Na verdade, nunca tinha pensado de forma séria sobre o assunto.

Quando fiz o curso de preparação para o parto, alertaram-me para as “dificuldades” da amamentação. Disseram-me que se não fizesse as coisas bem, podia por em causa todo o processo…Que grande responsabilidade! Esta ideia assustou-me profundamente, eu nunca tinha imaginado que pudesse não amamentar, fazia parte do processo, sentirme-ia completamente fracassada se não fosse capaz de o fazer.

Recolhi alguma informação sobre o assunto, mas essencialmente acreditei que ia ser capaz de cumprir esta etapa, tal como outras mães o fizeram…

O meu parto foi como eu imaginara: espontâneo, rápido e tranquilo; a minha filha mamou na primeira hora de vida e sem qualquer dificuldade. – “Já está!” Pensei eu, “Ela mama bem e eu sou capaz de amamentar daqui para a frente tudo irá correr bem!”.

Os meus mamilos estavam em ferida e a amamentação era muito dolorosa, mas tinham-me dito que passava e então eu aguentaria “até passar”…

Como todos os recém nascidos, a minha bebé perdeu 10% do seu peso e eu tinha a responsabilidade de a alimentar para que ela recuperasse rapidamente esse peso. Na primeira consulta este objectivo não foi cumprido, e a pediatra que acompanhava a I. olhou para mim muito séria e disse: “Mãe, o seu leite não me dá confiança, vamos dar suplemento para que a I. não passe fome”. Estas foram as palavras mais duras que alguma vez ouvi. Depois desta afirmação eu tinha a certeza que o meu leite era fraco, a médica não confia nele e a minha filha estava a passar fome! Senti-me completamente fracassada! “Sou uma Mãe que é incapaz de alimentar a sua cria!” – Chorei durante horas, saí do consultório directamente para a farmácia mais próxima, a minha filha podia estar a passar fome.

Durante dois dias vivi num pesadelo, a I. que até aí mamava bem e pouco chorava, passou a ter imensas dificuldades em mamar, e chorava horrores durante dia e noite…tinha começado a ter cólicas; Nunca tinha bolsado, e a partir desse momento bolsava sempre que acabava de beber o suplemento…Estava tudo errado e eu sentia-o, mas a médica tinha dito que o meu leite não lhe dava confiança…

Poucos dias depois de ter começado este pesadelo, recebi a visita de uma querida amiga que “ainda” amamentava o seu filho com 24 meses. Tinha vergonha de o dizer, mas depois de questionada expliquei o que se estava a passar. A minha amiga disse-me, com toda a sua determinação, que se fosse ela, nunca daria suplemento e explicou-me porquê e que caminho seguir.

Na manhã seguinte falei com alguém (Conselheira em Aleitamento Materno) que me explicou que o meu leite era suficiente e que se eu quisesse, era possível alimentar a I. exclusivamente com ele. Eu acreditei nela e agarrei-me com todas as minhas forças à sua energia e conhecimentos. Com o incansável apoio do meu marido, em menos de uma semana, a minha filha estava a ser alimentada a Leite Materno exclusido em Livre Demanda (mamava quando queria). Tinham também diminuido as cólicas e desconfortos.

Estava muito feliz com esta vitória, mas havia um “se”. E se na próxima consulta, a minha filha não tivesse aumentado o peso que a médica achava razoável? E se eu estivesse a pôr em causa a segurança e saúde da minha bebé? Como é que eu ia explicar à medica que não tinha cumprido as suas indiações?…

Simplesmente não fiz nada. Acreditei em nós (em mim e na I.) e esperei que chegasse a próxima consulta. Logo veria o que ia dizer à médica. Na consulta seguinte entramos no consultório de coração nas mãos, será que a I. estava a crescer de forma saudável? A médica mal olhou para mim ou para o pai. Vendo a I. no carrinho abriu os olhos e muito séria disse-me: “Que gorda! Mãe, temos de espassar estas mamadas e eventualmente tirar o suplemento em algumas!”

Fiquei completamente pasmada com tal reação. Naquele momento deixei de ter qualquer dúvida sobre a minha capacidade de amamentar a minha filha…

Hoje, com 24 meses, a minha filha continua a mamar, apesar de estar a passar pelo natural processo de desmame.

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