A propósito de toda esta polémica em torno dos beijinhos aos “avozinhos” e da liberdade (ou não) sobre o nosso próprio corpo, parece-me óbvio dizer que “as generalizações dão sempre azo a asneira”
Pensem comigo:
Obviamente que numa família unida onde os avós são pessoas presentes e influentes na vida da criança, tal como os pais, os irmãos, um(a) tio/tia, a empregada doméstica ou até uma vizinha, a relação é estabelecida ao longo dos tempos e por isso a própria criança vai beijar estas pessoas de livre e espontânea vontade, tal como beija o pai ou a mãe ou até a professora da escola.
Mas agora que escrevo isto, olho para o meu dia-a-dia e fico aqui com uma pulga atrás da orelha….
Os vossos filhos beijam-vos sempre que vocês querem ou às vezes não apetece?
Apetece-vos todos os dias dar beijinhos a toda a gente?
Vou partilhar um pouco da minha experiência como mãe e como pessoa (e criança que fui)
A minha filha, às vezes quando a vou buscar, está mais interessada em chamar a minha atenção para os amigos ou para saber o que é que vamos fazer as duas a seguir, do que propriamente em dar-me um beijinho e aquele abraço de que estive o dia todo à espera….É verdade, a minha filha às vezes não me quer dar um beijinho.
Logo a mim, a “mamãzinha” dela que a carregou 9 meses na barriga e a amamentou por dois anos. Cheguei a desistir de um trabalho estável porque ela era muito pequenina e precisava de estar mais tempo comigo do que na escola. Eu que passo horas a fazer trabalhos manuais com ela ou a cozinhar e a fazer coisas que ela gosta….Logo eu que fiz sempre tantos “sacrifícios”!
Nestas alturas em que a minha filha não me quer dar um beijinho eu tenho duas escolhas:
A) ou me zango e puxo dos meus galões todos e mais alguns, aproveito o facto de ter mais 31 anos do que ela, ser maior, mais persistente e argumentativa e digo-lhe que ela de alguma forma vai perder muitas coisas que para ela são importantes por não me dar aqueles dois beijos e aquele abraço,
B) OU, sou efectivamente mais inteligente do que isto e dou à miúda a atenção que ela espera de mim, brinco com ela e estou verdadeiramente com ela. Na segunda hipótese, sempre sem excepção, ela acaba por me vir dar um abraço “daqueles bem apertadinhos e cheios de vontade” com um beijinho bem repenicado e ainda sou premiada com as palavras “eu AMO-TE”
Acham que não me custa não ter logo aquele beijinho? Custa muito, principalmente naqueles dias em que mais preciso deles, mas a verdade é que se for forçado não é sentido e por isso não aquece verdadeiramente o meu coração.
Quando eu era pequena, desde sempre que tive que dar beijinhos e cumprimentar pessoas que eram amigas da minha mãe ou até família, pessoas que eu nunca tinha visto e acho que nunca mais vi.
As pessoas ficavam felizes mas eu não gostava! Estou traumatizada? Não, mas a verdade é que não o fazia com qualquer vontade ou sentimento. É esse o objetivo?
O mesmo acontece com os avós ou qualquer outra pessoa. Pior que isto é levar a criança a dar um beijo ou um abraço a alguém que não conhece verdadeiramente, com quem não tem o mínimo de contato ou relação.
Faço-vos uma proposta: Todos os pais têm de dar um beijinho e um abraço a todos os professores e auxiliares da escola dos vossos filhos. Sempre!
Acham absurdo?
Mas estes profissionais são verdadeiramente as pessoas que mais tempo estão com os vossos filhos, muitas vezes as crianças só vêem os avós de tempos em tempos, e mesmo aí, não se estabelece nenhuma relação de verdadeira confiança….